11 de jan. de 2019

A base para edificação é a Palavra de Deus

A Palavra de Deus deve ser pregada. Não falamos de uma pregação qualquer, da qual hoje estamos acostumados a ver em muitos lugares. Falamos da pregação bíblica, que expõe as Escrituras, apresentando a Deus, sua pessoa e vontade. Esta é a pregação que Jesus fez (Mt 4.17,23; 9.35; 11.1; Mc 1.14,39 e outras), e mandou seus discípulos fazer (Mt 10.7,27; 24.14; Mc 3.14; 16.15,20, e outras). Foi isso que a igreja fez nos primeiros dias, movida pelo Espírito Santo (em quase todo o livro de Atos temos citação disso).

Devemos pregar a Palavra de Deus, a palavra da fé (Rm 10.8). Ela é usada pelo Espírito Santo para produzir fé nos corações (Rm 10.17). E é a fé que nos conduz a prática. Aquele que ouve e não pratica, é porque não desenvolveu a fé na Palavra poderosa de Deus. Se não unida com a fé, o ouvir a Palavra para nada aproveita (Hb 4.2). A Palavra deve ser ouvida com fé, porque é de Deus (Gl 3.2).

O que torna a pregação tão especial, não é a sua forma, apesar de vermos indicação nas Escrituras disso, mas o seu conteúdo poderoso. A Palavra de Deus não volta vazia (Is 55.11), cumpre o que o Senhor determinou. Seja para a salvação, seja para a edificação da igreja.

A principal tarefa de quem cuida da edificação é pregar a palavra de Deus. Desta forma entenderam os apóstolos quando se viram ocupados com outras tarefas (At 6.2-4). O labor na pregação e ensino é motivo de maior honra entre os que governam a igreja (I Tm 5.17).

Não confundamos a pregação bíblica com exposição de conhecimento humano. A verdadeira pregação é exatamente a proclamação da sabedoria de Deus (I Co 1.17-31).

“Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem” I Co 1.21

Interessante notar que o que Paulo escreveu acima está no contexto do problema da divisão da igreja em Corinto. Paulo identificou o problema da divisão com a falta de percepção dos irmãos sobre a natureza da sua pregação. A questão é que eles não podiam seguir os homens. O que eles receberam foi do Senhor, que dá o crescimento. Os homens são “ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus”, e estes devem ser fiéis à sua Palavra (I Co 4.1-2). O que vemos hoje são muitos se dizendo ministros, mas não vemos fidelidade em suas vidas.

Paulo aplicou o ensino sobre a pregação da sabedoria de Deus, e não do conhecimento humano, para o problema da divisão na igreja de Corinto. “Para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, de modo que nenhum de vós se ensoberbeça a favor de um contra outro” (I Co 4.6).

Não podemos desconsiderar o valor da pregação autêntica, que proclama a Sabedoria de Deus, que produz fé. Que é usada por Deus para nos advertir sobre nossa vida e nos conduzir a santidade. Apesar de muito importante na vida da igreja, a comunhão (koinonia) não tem esse poder. Pelo contrário, ela deve refletir a palavra pregada.

O caminho de volta, para o ressurgimento de uma igreja bíblica, deve, obrigatoriamente, partir da Palavra de Deus. Qualquer estrutura que usemos, inclusive os lares, se não tiver o devido cuidado com a pregação bíblica, se tornará apenas um corpo sem vida. Por mais dinâmicos que possam ser os relacionamentos, não é a comunhão que produz a edificação, mas sim a Palavra de Deus, que nos gerou (I Pe 1.23; Tg 1.18,), que opera em nós, os que cremos (I Ts 2.13), que é “viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” Hb 4.12.

“A palavra de Cristo habite em vós ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações.” Cl 3.16

31 de mar. de 2018

ROGUEI POR TI


Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça...” Lc 22:32
Estas palavras do Senhor Jesus me fazem pensar em sua grande misericórdia para conosco. Bem, elas foram dirigidas a Pedro, num momento que bem conhecemos. Pedro, ah! Pedro... que negou a Jesus... Mas, muitas vezes, não nos parecem familiares os fatos que os evangelhos narram?
1. O Senhor que conhece todas as coisas (Mc. 14.27-31)
O Senhor, que conhece todas as coisas, disse: “Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim” (Mc 14.27). Não, Senhor! Pedro reage... “Ainda que todos se escandalizem, nunca, porém, eu” (v.29). Pedro, meu Pedro! Você vai me negar... “três vezes”. Mas agora, não somente Pedro, mas todos os discípulos disseram o mesmo: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei” (v. 31). Não joguemos pedras neles. Paremos um pouco e olhemos para nós mesmos. Nunca foi encontrado em nós tal comportamento? Nunca fizemos algo que declaramos veementemente que não faríamos? Nunca “negamos” o Senhor? Nunca? Nossa esperança é “...que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores...” (I Tm 1.15).
“Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Esse verso tem uma verdade gloriosa. Pensemos que Cristo, naquela conversa com os discípulos, estava prestes a ir a morte. Por eles. Por Pedro. Por mim e por você. Bem. Ele estava se entregando para morrer em nosso lugar. Mas justamente naquela hora, ele foi negado. Se escandalizaram dele.
2. O Senhor que se compadece (Lc. 22.31-3; 54-62)
Me chama a atenção como o Senhor trata com eles, e em especial com Pedro. Vemos no Evangelho de Lucas que o Senhor diz a Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça” (Lc 22.31-32). Ele sabia que seria desprezado, negado três vezes! Mas se compadeceu de Pedro... rogou por ele. Que grandioso amor do nosso Senhor!
Quando penso que o Senhor já sabe de todos os meus pecados, que cometi e vou cometer, e mesmo assim me amou e morreu por mim. “Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rm 5.6). Assim como a Pedro, roga por mim, para que minha fé não desfaleça. Se coloca como meu advogado (I Jo 2.1).
Mas com isso não estou dizendo que esse amor nos deixa despreocupados quanto ao pecado. Não! Seu amor nos conduz para a santidade. Sua benignidade nos leva ao arrependimento: “desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?” (Rm 2.4). Foi assim com Pedro. De certa forma, Pedro precisava conhecer quão grave era o pecado. Ele ainda não sabia quão necessitado da graça de Deus ele era. Firmou-se em si mesmo para dizer: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei”. Isso não pode ser produzido pelo homem. “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente” (Tt 2.11-12). Sem a graça de Deus não somos salvos. Sem a graça não vencemos o pecado. A graça de Deus nos salva e nos ensina a viver "sóbria, e justa, e piamente".
3. O Senhor que conduz à perseverança (Jo. 21.15-19)
Sabemos como Pedro chorou amargamente depois de ter negado o Senhor. Pedro caiu em si. Não diria mais como antes. Não poderia mais confiar em si mesmo. Mas continuemos. Encontramos Pedro depois da ressurreição de Jesus, e o Senhor lhe faz uma pergunta inquietante: “Amas-me?”. Duas vezes pergunta usando o verbo grego "ágape", que indica um amor sacrificial e incondicional. Pedro responde que ama com “fileo” (amor-amizade, afeição). Não teve coragem de responder à altura do amor de Jesus. Quando da terceira vez, Jesus pergunta a Pedro, desta vez com “fileo”, este se entristece. Mas o que chama a atenção é o que o Senhor declara a Pedro: “Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queiras” (Jo 21.18). O que Jesus queria dizer? O verso seguinte responde: “E disse isto, significando com que morte havia ele de glorificar a Deus”. Pedro iria morrer pelo seu Senhor! Ele seria capaz de amar com “ágape”! Mas como? “Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça...”.
A perseverança de Pedro estava baseada no amor do Senhor! Em seu amor Ele nos salvou, e em seu amor Ele nos faz permanecer. “...Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” (Rm 8.34-35).
A história de Pedro é a nossa história. E mais ainda, é a história do amor do Senhor para conosco. Como em seu amor Ele nos salvou, mesmo sendo pecadores, e em como em seu amor Ele nos conduz à perseverança, mesmo ainda pecadores.
“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Fp 1.6).
“Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou” (Rm 8.37)

6 de mai. de 2012

Ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros...


A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros...” Cl 3:16

Quando estudamos o Novo Testamento, focalizando em como devem viver os discípulos de Cristo, nos admiramos de ver as muitas repetições da expressão “uns aos outros” em referência ao trato mútuo daqueles que foram chamados à comunhão dos santos (I Jo 1.3-7). Esta comunhão, diferente do que hoje é divulgada, não pode ser produzida por atividades ou métodos. Ela é consequência de sermos chamados à comunhão do Pai e de seu filho Jesus Cristo. E andando na luz (por que Deus é luz), “temos comunhão uns com os outros” (I Jo 1.7). Já tratei desse assunto em outra postagem.

A prática desta comunhão é parte do nosso viver como discípulos de Cristo. Nela se encontra a expressão “uns aos outros”. Encontramos ela relacionada com o amor, como em João 13.34: “... que vos ameis uns aos outros” e em grande parte dos textos. Mas também com os verbos suportar, servir, perdoar, sujeitar, exortar, etc. Todos estes aspectos são muito ricos para a prática da comunhão dos santos. Mas gostaria de destacar um aspecto que me chamou a atenção ao estudar este tema: o de ensinar e admoestar uns aos outros.

No texto da carta de Paulo aos Colossenses encontramos o apóstolo ordenando: “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros...” (Cl 3:16). Mas esta não é a primeira referência de Paulo ao assunto na carta. Logo no início da carta, ele próprio é apresentado realizando esta tarefa: “... [Cristo]...a quem anunciamos, admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo. E para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente” (Cl 1.28-29). Paulo trabalhava arduamente, confiando no poder de Deus, para apresentar todo “homem perfeito em Jesus Cristo”. Não é uma tarefa fácil, que possa ser realizada com esforço humano apenas. Mas como Paulo esperava conseguir tal proeza? Anunciando a Cristo, ensinando e admoestando em toda a sabedoria. Então, conhecendo deste recurso, Paulo diz aos irmãos: “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros...”. Isso nos faz lembrar como o apóstolo orientou a Timóteo: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (II Tm 3.16-17). A Palavra de Cristo, a Escritura, é o recurso que devemos usar no ensino e admoestação uns aos outros. Ela é a sabedoria de Deus, revelada aos homens, e que nos foi concedida para que, pelo poder de Deus, usada pelo Espírito Sando, produza em nós o “homem perfeito em Cristo”.

Além do uso particular e contínuo da Palavra de Deus na vida de cada crente, Deus quer que estejamos fazendo uso dela para ensinar e admoestar uns aos outros. Creio que esta é uma prática adequada para os que já foram recebidos à comunhão dos santos. Na carta aos Romanos Paulo afirmou “Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros” (Rm 15.14). Cheios do conhecimento de Cristo, que recebemos por meio de sua Palavra, podemos, e devemos, admoestar-nos mutuamente. A admoestação é uma advertência, uma repreensão branda, que além de reprovar o erro, buscar orientar para a prática correta. Como somos necessitados disso no nosso dia a dia. E Aquele que nos colocou em comunhão uns com os outros, quer que utilizemos a Sua Palavra para que haja instrução e ensino mútuo. Para que sempre estejamos cuidando uns dos outros. Ele ainda nos diz: “Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.13).

Para recebermos os benefícios deste ensino e admoestação requeridas como prática de nossa comunhão, devemos também buscar a prática das demais coisas que são mútuas: de servir, pois se nossa disposição não for de servir, não estaremos buscando o bem do outro; de suportar, pois se não estivermos dispostos a ser suporte uns aos outros, nos faltarão paciência e cuidado enquanto ensinamos; sujeição, pois se não nos dispormos a sujeitar uns aos outros, como poderemos receber a instrução e admoestação dos demais? Isso é apenas uma pequena amostra destas práticas. Melhor finalizar com o texto de Colossenses 3.12-17, pois ele nos traz uma visão mais completa deste quadro:

Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade;
Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.
E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.
E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos.
A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração.
E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.”

22 de fev. de 2012

Providência: obra graciosa de Deus em Sua soberania!

É muito bom meditar na Providência de Deus. Em diversos aspectos podemos notar a graça e misericórdia de Deus sendo manifesta, pelas obras de Sua providência. Cada vez mais me maravilho com o poder de Deus, ao fazer “todas as coisas, segundo o conselho de sua vontade” (Ef. 1.11).

Nas páginas da Escritura são registradas muitas ações da providência de Deus. Acompanhando a narrativa bíblica, podemos não perceber inicialmente que Deus agiu, visto que em muitos casos focalizamos as ações dos homens nas histórias. Mas a Bíblia é essencialmente uma narrativa de como Deus atua. Muitas vezes somente percebemos a providência, depois de ver os fatos subsequentes. Eles revelam a providência de Deus, não percebida antes. Isso acontece especialmente nos momentos de dificuldades: “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos” (Sl 119.71).

Histórias como a da rainha Ester são exemplos claros da mão providente de Deus na história. Porque Deus conduziu Ester, uma garota órfã do povo judeu, ao palácio do rei Assuero, tornando-a rainha do império? Isso somente se torna claro no momento em que vemos o povo de Deus sob ameaça de destruição. Não foi para a glória pessoal de Ester. “E quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Et 4.14). Este questionamento descreve como Mardoqueu percebeu o motivo de Ester estar no posto de rainha. Meditemos um pouco: qual deles saberia da necessidade de uma rainha do povo judeu naquela situação? Não, eles não sabiam. Ester não foi conduzida para o “processo de seleção” de rainha do reino por terem esta percepção. Depois que vemos a ameaça ao povo judeu, então percebemos a providência de Deus. Ele conduziu todas as coisas, para que naquele exato momento, Ester estivesse lá, preservando o povo da destruição. A história de Ester é uma amostra. São muitas nas Escrituras: José, Moisés, Rute, Samuel, David, … a lista é grande!! E sobre todas elas, vemos a grande providência de Deus na vinda de Jesus. A história foi conduzida, pela providência de Deus, para a vinda do redentor (At 2.23, 4.28).

Não sabemos como Deus age, de forma a conduzir isso (Is 55.9, Rm 11.33-34). Os homens decidem e agem, sendo responsáveis por suas ações (Rm 2.1-6). Isto também é visto claramente na Escritura. Cada um há de prestar contas ao Senhor em como anda nesta vida. Mas, ao mesmo tempo, nada foge ao controle de Deus. Isso é maravilhoso. “Segundo a sua vontade Ele opera com o exercito do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?” (Dn 4.35).

Mas, a história da providência de Deus também nos alcança. Podemos percebê-la em nossas próprias vidas, seus filhos e objetos do Seu amor e misericórdia. Até mesmo antes de nosso nascimento!! (Sl 139.16). Como Deus nos colocou na família e no lugar onde poderíamos conhecê-lo. Não que entendamos imediatamente o que nos acontece. Ou que ao agirmos, pensamos deliberadamente na providência de Deus. Não!! Mas Ele inclina o nosso coração para agir e decidir de forma que, mesmo sem considerarmos o desdobramento dos fatos, Sua mão a tudo conduz (Pv 21.1). Até que algo aconteça, e então, reconhecemos que Deus agiu novamente com grande misericórdia conosco, através de sua graciosa providência. Por vezes, de forma ingrata, reclamamos do que nos acontece, até que os nossos olhos sejam abertos e vejamos que, o que nos pareceu mal, foi de fato um cuidado de Deus conosco.

Confesso que há grande dificuldade em entender como Deus faz tudo isso, e mesmo assim sermos realmente responsáveis por nossos atos. Mas me submeto às declarações das Escrituras! Sim, sou eu que ajo e decido nas coisas do dia a dia. Quando erro, quando peco, é minha vontade agindo, em desacordo com sua Palavra. Mas em Sua bendita providência ele age, ainda que me disciplinando, pois “... somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (I Co 11.32). Podemos crer e confiar em Deus, que de forma justa e amorosa atua na nossa história (Mt 10.29-31).

Louvemos a Deus, por sua graciosa providência, reconhecendo que tudo ele faz pra nosso bem!
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Rm 8.28

29 de dez. de 2011

“Ainda este ano”, por Charles Haddon Spurgeon (Lc 13.6-9)


No inicio de outro ano, e no começo de outro volume de sermões, desejamos com toda sinceridade expressar uma palavra de exortação: mas, ah, nesse momento, o pregador é um prisioneiro, e deve falar da sua cama em vez de fazê-lo desde seu púlpito. Não permitam que as poucas palavras que um homem enfermo possa expressar lhes cheguem com um diminuto poder, pois o fuzil disparado por um soldado ferido dispara a bala com a mesma força. Nosso desejo é falar com palavras vivas, ou não falar nada. Suplicamos ao Senhor que nos habilite para sentarmos e compor essas trêmulas frases, que as vistas com Seu Espírito, para que sejam frases que vão de acordo com Sua própria mente.
O vinhateiro intercessor suplicou pela figueira estéril: ― “deixa-a ainda este ano”, pedindo o prazo de um ano, por assim dizer, a partir do momento em que falou isso. As árvores e as plantas que dão fruto têm uma medida natural para suas vidas – evidentemente, um ano tinha transcorrido quando chegou o tempo de buscar fruto na figueira, e outro ano começava quando o vinhateiro começou de novo sua obra de cavar e podar.
Os homens são seres tão estéreis, que sua produção de frutos não marca épocas certas, e se faz necessário estabelecer para eles divisões artificiais de tempo – não parece que havia tido um período definido para colheita ou para a vindima espirituais, ou se tivesse, os feixes e os cachos não brotam na sua estação, e por isso, temos que dizer uns dos outros: ― “esse será o começo de um novo ano”.
Então, que assim seja. Congratulemo-nos uns aos outros por ver a alvorada de “ainda esse ano”, e oremos juntos para que possamos entrar nele, e continuar nele, e chegar a sua conclusão, debaixo da perene benção do Senhor a quem pertence todos os anos.
I. O começo de um ano novo SUGERE UMA RETROSPECTIVA. Olhemos resoluta e honestamente. “Ainda este ano” – então houve anos anteriores de graça. O vinhador não estava consciente pela primeira vez da falha da figueira, nem o dono da figueira tinha vindo pela primeira vez buscando figos em vão.
Deus, que nos dá “ainda esse ano”, nos tem dado outros anos previamente. Sua paciente misericórdia não é uma novidade. Sua paciência já foi posta à prova por nossas provocações. Primeiro, vieram nossos anos juvenis, quando, inclusive, um pequeno fruto para Deus é peculiarmente agradável a Ele. Como o passamos? Acumulou-se toda nossa força na casca silvestre e no cacho deixado como resto? Se for assim, bem podemos deplorar esse vigor desperdiçado, essa vida mal gasta, esse assombroso pecado multiplicado. Quem nos viu usar indevidamente daqueles meses de ouro da juventude, nos proporciona “ainda esse ano”, e temos de entra nele com um santo zelo, para que a força e o ardor que nos sobraram não corram os mesmos caminhos de desperdício como em anos anteriores.
Seguindo os calcanhares de nossos anos juvenis, vieram os anos correspondentes a maturidade, quando começamos a forma um lar, e nos convertemos como uma árvore plantada em seu lugar – também aí o fruto teria sido precioso. Produzimos algum fruto? Presenteamos o Senhor com um cesta de frutos de verão: Oferecemos a Ele as primícias de nossa força? Se o fizemos assim, bem podemos adorar a graça que nos salvou, tão cedo – mas, se não foi assim, o passado nos repreende, e, levantando um dedo acusador, nos adverte que não permitamos que “ainda esse ano” siga o caminho do resto de nossas vidas.
Aquele que tiver desperdiçado a juventude e a manhã da madures, dedicou tempo suficiente à insensatez – o tempo passado deveria lhe bastar para ter cumprido a vontade da carne: seria um excesso de iniquidade permitir que ― "ainda esse ano" seja espezinhado no serviço do pecado.
Muitos de nós nos encontramos na flor da idade, e os anos que já vivemos não são poucos. Ainda necessitamos confessar que nossos anos são comidos pelo gafanhoto e pelo pulgão? Acaso já tivemos que recorrer a algum centro de reabilitação, e ainda não sabemos aonde vamos? Somos ainda néscios a idade de quarenta anos? Temos cinquenta, de acordo ao calendário, no entanto, nos encontramos a grande distância do critério? Ai, grandioso Deus, que haja homens que passem essa idade e que ainda não tenham conhecimento! Não são salvos aos sessenta, não são regenerados aos setenta, não foram despertados aos oitenta, não são renovados aos noventa! Todas e cada uma dessas considerações são muito alarmantes. No entanto, porventura, cada uma cairá em ouvidos que não poderão deixar de formigar, ainda que as ouçam como se não as tivessem escutado. A continuidade no mal gera dureza de coração, e quando a alma esteve dormindo por largo tempo na indiferença, é difícil despertá-la do estupor mortal.
O som das palavras ―"ainda esse ano", nos faz lembrar, a alguns de nós, dos anos de grande misericórdia, brilhantes e resplandecentes de deleite. Esses anos foram colocados aos pés do Senhor? Foram comparáveis às campainhas de prata dos cavalos: foram de ― “Santidade a Jeová”? Se não foram, como responderemos por eles se “ainda esse ano” deveriam ser musicais com jubilosa misericórdia, e, no entanto, os desperdiçamos nos caminhos do abandono?
As mesmas palavras nos recordam, a alguns de nós, nossos anos de severa aflição, quando, verdadeiramente cavavam em nossa volta e nos adubavam. Como passaram esses anos? Deus estava fazendo grandes coisas para conosco, exercendo uma lavoura cuidadosa e custosa, cuidando de nós com um cuidado sumamente grande e sábio. Produzimos de acordo com o benefício recebido? Levantamo-nos da cama sendo mais pacientes e mansos, odiados do mundo, e unicamente unidos a Cristo? Produzimos cachos de fruto para recompensar o vinhador da vinha?
Não recusemos essas perguntas de autoexame, pois poderá ser que isso resulte ser outro desses anos de cativeiro, outra estação de forno e de crisol. Que o Senhor nos conceda que a tribulação futura nos livre de mais palha que qualquer doutro desses anos anteriores, e deixe o trigo mais limpo e em melhores condições.
O novo ano também nos lembra das oportunidades de utilidade, que chegaram e se foram, e de resoluções não cumpridas, que floresceram só para murcharem – será “ainda esse ano” como esses que transcorreram antes? Não poderíamos esperar que a graça avançasse sobre a graça já ganha, e não deveríamos buscar poder para transformar nossas enfermas promessas em robusta ação?
Olhando o passado, lamentamos as sandices pela quais não queríamos ser mantidos voluntariamente cativos “ainda esse ano”, e adoramos a misericórdia perdoadora, a providencia preservadora, a liberalidade ilimitada e o amor divino, dos quais esperamos ser participantes “ainda esse ano”.
II. Se o pregador pudesse pensar com liberdade, poderia navegar no texto com prazer em muitas direções, porem, ele está debilitado, e por isso deve deixar-se ir com a corrente que leva a segunda consideração: o texto MENCIONA UMA MISERICÓRDIA. Foi devido a uma grande benignidade, que fosse permitido à arvore que inutilizava a terra, permanecer ainda outro ano, e a vida prolongada sempre há de ser considerada uma benção da misericórdia Veremos “ainda esse ano” como uma dádiva da graça infinita. É mal falar como se a vida não nos importasse, e considerar nossa estada aqui como um mal ou um castigo – estamos aqui “ainda esse ano” como resultado das intercessões do amor, e em cumprimento dos desígnios do amor.
O homem malvado deveria considerar que a paciência do Senhor aponta para sua salvação, e deveria permitir que as cordas de amor o atassem a ela. Oh, que o Espírito Santo fizera que o blasfemo, o quebrantador do dia do senhor, e o viciado ostentador sentissem que coisa admirável é que suas vidas sejam prolongadas “ainda esse ano”! Por acaso lhes é concedida vida para que amaldiçoem, e corram desenfreados e desafiem seu Criador? Esse deveria ser o único fruto da paciente misericórdia? Aquele que deixa as coisas para mais tarde e que tem deixado o mensageiro do céu com suas demoras e meias promessas, não deveria maravilhar-se de que lhe seja permitido ver “ainda esse ano”? Como é que o Senhor foi indulgente com ele, e há tolerado suas vaciladas e titubeios? Esse ano de graça será mal gasto da mesma forma? As impressões passageiras, as precipitadas resoluções e as prontas apostasias, terão de ser isso a mesma história trilhada que se repete uma e outra vez? A consciência assustada, a tirana paixão, a emoção reprimida! Serão esses aos sinais de “ainda esse ano”? Que Deus não queria que nenhum de nós duvide ou procrastine ao longo de “ainda esse ano”.
A piedade infinita detém a lança da justiça – será ela insultada pela repetição dos pecados que provocaram que se levantasse o instrumento da ira? O que poderia ser mais atemorizante para o coração da bondade que a indecisão? Bem faz o profeta do Senhor se colocar impaciente e clamar: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? (1Reis 18:21) Deus pode muito bem exigir uma decisão e exigir uma resposta imediata.
Oh alma indecisa, oscilará muito tempo ainda entre o céu e o inferno, e atuará como se fosse difícil decidir entre a escravidão de Satanás e a liberdade do lar de amor do Grandioso Pai? “Ainda esse ano” se divertirá no desafio da justiça e perverterá a generosidade da misericórdia, convertendo ela em uma licença para uma maior rebelião? “Ainda esse ano” será o amor divino convertido em uma ocasião para um continuo pecado? Oh, não atue dessa forma vil, de maneira tão adversa a todo instinto nobre, de maneira tão injuriosa para seus próprios e melhores interesses.
O crente é conservado fora do céu “ainda esse ano” em amor, e não na ira. Existem alguns por cuja causa é necessário que habite na carne, alguns que serão ajudados por ele em seu caminho até o céu, e outros que serão conduzidos aos pés do Redentor por sua instrução. O céu de muitos santos ainda não está preparado para eles, porque seus companheiros mais próximos não chegaram ainda, e seus filhos espirituais não se reuniram na glória em número suficiente, pata dar-lhes uma completa bem-vinda celestial: terão de esperar “ainda esse ano” para que seu repouso seja mais glorioso, e para que os feixes que eles levarão com eles possam proporcionar-lhes um gozo maior.
Verdadeiramente, por causa das almas, pelo deleite de glorificar nosso Senhor, e pelo incremento de joias de nossa coroa, podemos estar contentes de esperar aqui embaixo “ainda esse ano”. Esse é um campo muito vasto, porém não podemos demorarmos nele, pois nosso espaço é reduzido, e nossa força é ainda menor.

III. Nossas últimas palavras frágeis lhes recordarão que a expressão “ainda esse ano” IMPLICA EM UM LIMITE. O vinhador não pediu uma suspensão da sentença maior que um ano. Se labor de cavar e adubar não mostrassem então ser eficazes, não intercederia mais, e a arvore deveria cair.
Mesmo quando Jesus é o intercessor, a solicitação de misericórdia tem seus limites e seus tempos. Não é para sempre que seremos deixados sós, e que nos seja permitido inutilizar a terra – se não nos arrependermos, devemos perecer – se não queremos ser beneficiados pela enxada, devemos cair pelo golpe do machado.
Virá um último ano a cada um de nós: portanto, que cada um diga a si mesmo: esse é meu último ano? Se fosse o último ano para o pregador, cingiria seus lombos para entregar a mensagem do Senhor com toda sua alma e pedir a seus semelhantes que sejam reconciliados com Deus.
Querido amigo, “ainda esse ano” será seu último ano? Está preparado para ver que a cortina se levantar revelando a eternidade? Está preparado para ouvir o grito da meia noite, e entrar na ceia das Bodas? O juízo e tudo o que se seguir são, de forma certíssima, a herança de todo homem. Benditos aqueles que pela fé em Jesus são capazes de enfrentar o tribunal de Deus sem pensamento de terror.
Se vivêssemos para ser contatos entre os habitantes mais velhos, ainda assim ao fim devemos partir: tem que haver um fim, e a voz deve ser ouvida: “Assim diz o Senhor, morreras esse ano”. Tantos se foram antes que nós, e cada hora estão voando, que ninguém deveria de nenhum outro memento mori (“recorda que há de morrer”), e , no entanto, o homem está tão interessado em esquecer sua própria mortalidade, e mediante isso, perder suas esperanças da bem aventurança, que não podemos colocar ela muito longe dos olhos de nossa mente. Oh homem mortal, reflita!
Prepare-se para vir ao encontro de teu Deus – pois deves encontrar-se com Ele. Busque ao Salvador, sim, busque-lhe antes que outro sol se oculte para seu descanso.
Mais uma vez, “ainda esse ano” - e poderá ser só por esse ano – a cruz é levantada como um farol do mundo, a única luz à que nenhum olho mira em vão. Oh, que milhões de pessoas olhassem para esse local e vivessem. O Senhor pronto virá uma segunda vez, e então o resplendor de Seu trono ocupará o lugar do ligeiro esplendor de Sua cruz: o Juiz será visto no lugar do Redentor. Agora Ele salva, porem naquele momento Ele destruirá. Ouçamos Sua voz nesse momento. Ele tem posto um limite de graça. Creiamos em Jesus nesse dia, vendo que poderia ser nosso último dia. Essas são as súplicas de alguém que agora encosta-se a seu travesseiro, absorto na debilidade. Ouça-as por causa de suas próprias almas e vivam.

 
Traduzido do espanhol, do sermão "Todavía Este Año" traduzido por Allan Román, com autorização deste para português pelo Projeto. Todo direito de tradução protegido por lei
internacional de domínio público — Sermão no 1415A — Volume 25
Tradução: Armando Marcos Pinto
Disponibilizado pelo Projeto Spurgeon

Pregando a Cristo Crucificado. Projeto de tradução de sermões, devocionais e livros do pregador batista reformado Charles Haddon Spurgeon (1834-1892) para glória de Deus em Cristo Jesus, pelo poder do Espírito Santo, para edificação da Igreja e salvação e conversão de incrédulos de seus pecados. Ore para que o Senhor avence essa obra.
Ore pelos tradutores, ore por Allan Román; Acesse em:


4 de dez. de 2011

Apascentando Ovelha ou Entretendo Bode, por Charles H. Spurgeon

Um mal acontece no arraial professo do Senhor, tão flagrante na sua impudência, que até o menos perspicaz dificilmente falharia em notá-lo. Este mal evoluiu numa proporção anormal, mesmo para o erro, no decurso de alguns anos. Ele tem agido como fermento até que a massa toda levede. O demônio raramente fez algo tão engenhoso, quanto insinuar a Igreja que parte da sua missão é prover entretenimento para o povo, visando alcançá-los. De anunciar em alta voz, como fizeram os puritanos, a Igreja, gradualmente, baixou o tom do seu testemunho e também tolerou e desculpou as leviandades da época. Depois, ela as consentiu em suas fronteiras. Agora, ela as adota sob o pretexto de alcançar as massas.
Meu primeiro argumento é que prover entretenimento ao povo, em nenhum lugar das Escrituras, é mencionado como uma função da Igreja. Se fosse obrigação da Igreja, porque Cristo não falaria dele? "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Lc.16:15). Isto é suficientemente claro. Assim também seria, se Ele adicionasse "e provejam divertimento para aqueles que não tem prazer no evangelho". Tais palavras, entretanto, não são encontradas. Nem parecem ocorrer-Lhe.
Em outra passagem encontramos: "E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres? (Ef.4:11). Onde entram os animadores? O Espírito Santo silencia, no que se refere a eles. Os profetas foram perseguidos por agradar as pessoas ou por oporem-se a elas?
Em segundo lugar, prover distração está em direto antagonismo ao ensino e vida de Cristo e seus apóstolos. Qual era a posição da Igreja para com o mundo? "Vós sois o sal da terra" (Mt.5:13), não o doce açúcar ! algo que o mundo irá cuspir, não engolir. Curta e pungente foi à expressão: "Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos? (Mt.8:22). Que seriedade impressionante!
Cristo poderia ter sido mais popular, se tivesse introduzido mais brilho e elementos agradáveis a sua missão, quando as pessoas O deixaram por causa da natureza inquiridora do seu ensino. Porém, eu não O escuto dizer: "Corre atrás deste povo Pedro, e diga-lhes que teremos um estilo diferente de culto amanhã; algo curto e atrativo, com uma pregação bem pequena. Teremos uma noite agradável para eles. Diga-lhes que, por certo, gostarão. Seja rápido, Pedro, nós devemos alcançá-los de qualquer jeito!".
Jesus compadeceu-se dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca pretendeu entretê-los. Em vão as epístolas serão examinadas com o objetivo de achar nelas qualquer traço do evangelho do deleite. A mensagem que elas contêm é: "Saia, afaste-se, mantenha-se afastado!? Eles tinham enorme confiança no evangelho e não empregavam outra arma.
Depois que Pedro e João foram presos por pregar o evangelho, a Igreja reuniu-se em oração, mas não oraram: "Senhor, permite-nos que pelo sábio e judicioso uso da recreação inocente, possamos mostrar a este povo quão felizes nós somos". Dispersados pela perseguição, eles iam por todo mundo pregando o evangelho. Eles "viraram o mundo de cabeça para baixo". Esta é a única diferença! Senhor, limpe a tua Igreja de toda futilidade e entulho que o diabo impôs sobre ela e traze-a de volta aos métodos apostólicos.
Por fim, a missão do entretenimento falha em realizar o objetivo a que se propõe. Ela produz destruição entre os jovens convertidos. Permitam que os negligentes e zombadores, que agradecem a Deus porque a Igreja os recebeu no meio do caminho, falem e testifiquem! Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o bêbado para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de promover entretenimento não produz convertidos verdadeiros.
O que os pastores precisam hoje, é crer no conhecimento aliado a espiritualidade sincera; um jorrando do outro, como fruto da raiz. Necessitam de doutrina bíblica, de tal forma entendida e experimentada, que ponham os homens em chamas.

Fonte: www.PalavraPrudente.com.br

1 de dez. de 2011

Um Templo ou um Teatro? por Charles H. Spurgeon

Os homens parecem nos dizer: "Não há qualquer utilidade em seguirmos o velho método, arrebatando um aqui e outro ali da grande multidão. Queremos um método mais eficaz. Esperar até que as pessoas sejam nascidas de novo e se tornem seguidores de Cristo é um processo demorado. Vamos abolir a separação que existe entre os regenerados e os não-regenerados. Venham à igreja, todos vocês, convertidos ou não-convertidos. Vocês têm bons desejos e boas resoluções: isto é suficiente; não se preocupem com mais nada. É verdade que vocês não crêem no evangelho, mas nós também não cremos nele. Se vocês crêem em alguma coisa, venham. Se vocês não crêem em nada, não se preocupem; a 'dúvida sincera' de vocês é muito melhor do que a fé".
Talvez o leitor diga: "Mas ninguém fala desta maneira".
É provável que eles não usem esta linguagem, porem este é o verdadeiro significado do cristianismo de nossos dias. Esta é a tendência de nossa época. Posso justificar a afirmação abrangente que acabei de fazer, utilizando a atitude de certos pastores que estão traindo astuciosamente nosso sagrado evangelho sob o pretexto de adaptá-lo a esta época progressista.
O novo método consiste em incorporar o mundo à igreja e, deste modo, incluir grandes áreas em seus limites. Por meio de apresentações dramatizadas, os pastores fazem com que as casas de oração se assemelhem a teatros; transformam o culto em shows musicais e os sermões, em arengas políticas ou ensaios filosóficos. Na verdade, eles transformam o templo em teatro e os servos de Deus, em atores cujo objetivo é entreter os homens. Não é verdade que o Dia do Senhor está se tornando, cada vez mais, um dia de recreação e de ociosidade; e a Casa do Senhor, um templo pagão cheio de ídolos ou um clube social onde existe mais entusiasmo por divertimento do que o zelo de Deus?
Ai de mim! Os limites estão destruídos, e as paredes, arrasadas; e para muitas pessoas não existe igreja nenhuma, exceto aquela que é uma parte do mundo; e nenhum Deus, exceto aquela força desconhecida por meio da qual operam as forças da natureza. Não me demorarei mais falando a respeito desta proposta tão deplorável

5 de nov. de 2011

― Sou evangélico!! — É... de qual evangelho??


É isso mesmo. Não me enganei no título... para muitos o normal é perguntar: “De qual igreja?”, mas acredito que faz mais sentido no contexto atual perguntar: “De qual evangelho?”. Como assim? Bem, o “evangelho”, define a “igreja”.

Não quero iniciar uma discussão com base em palavras... se bem que os conceitos são muitíssimo importantes. Mas... de que “evangelho” estamos falando? De que “igreja” estamos falando? Não estarei aqui discutindo as diferenças entre os muitos conceitos atuais, embora também seja muito pertinente, mas estou refletindo sobre o fato de que o termo “evangélico” hoje não identifica um grupo homogêneo em fé e prática.

Precisamos admitir que há diversos “evangelhos” hoje em dia, e consequentemente, diversos tipos de “igrejas”. Bem, isso não é um problema novo. Os apóstolos (me refiro aos assim denominados nas páginas do Novo Testamento) já lidavam com esse problema. Diversas epístolas mostram o combate pela fé evangélica, devido a mestres que introduziam outros evangelhos. Paulo mesmo foi um dos que compreendia sua missão não somente de pregar o Evangelho, mas de também trabalhar pela defesa do Evangelho (Fp 1.17).

Mas há um verdadeiro Evangelho, este é o “evangelho de Cristo… o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego” (Rm 1.16), mas que também é o Evangelho pelo qual "Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo” (Rm 2.16). É o “evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (II Co 4.4), que exalta a Cristo, Verbo Eterno de Deus. É o evangelho da graça de Cristo (Gl 1.6), que apresenta o homem como necessitado da misericórdia de Deus, por causa do seu estado de queda. O verdadeiro evangelho glorifica a Deus, exalta a Cristo, porque anuncia “por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo” (Ef 3.8), que somente são compreendidas pela ação da graça, operadas pelo Espírito Santo, que convence o homem “do pecado, e da justiça e do juízo” (Jo 16.8). É o evangelho que anuncia a “a palavra da cruz” que “é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (I Co 1.18). É o evangelho que anuncia a sabedoria de Deus, “que pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” (I Co 1.21). É o evangelho que somente prega “a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos”, que apresenta somente “a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus” (I Co 1.23-24). Ou seja, é o evangelho centralizado em “Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (I Co 1.30). É o evangelho que anuncia que “em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). É o evangelho que mostra a coerência entre salvação e vida santa pois “a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente” (Tt 2.11-12), pois sem a santificação “ninguém verá o Senhor“ (Hb 12.14), pois fomos “eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência” (I Pe 1.2).

Os falsos evangelhos podem aparentar com o verdadeiro evangelho em alguns aspectos, em algumas práticas, no uso de alguns termos, mas essencialmente são diferentes. Estas diferenças devem ser percebidas por aqueles que professam ser cristãos evangélicos. Os falsos evangelhos não glorificam a Cristo, não é apresentado para a glória de Deus. Os homens que os anunciam buscam sua própria glória, ou falam de glória terrestre. São mensagens que alimentam as concupiscências da carne, ao invés de combatê-las. Aumentam o apetite pelas coisas desta terra, pelas riquezas, não considerando que Jesus disse “acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” (Lc 12.15). Disseminam o amor ao mundo, mesmo sendo advertidos de que “se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (I Jo 2.15-16). Dizem ao homem que está nele mesmo a forma de alcançar o que ele deseja, seja espiritual ou material. Apresentam formas diversas, externas, para que as pessoas possam conseguir “as bençãos de Deus” com seus próprios esforços. São evangelhos que rejeitam qualquer dor ou enfermidade, e não reconhecem que há enfermidades que são “para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela“ (Jo 11.4). São evangelhos que rejeitam as Escrituras, que nos fazem sábios “para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus“ (II Tm 3.15), e preferem outras supostas fontes como revelação de Deus, fazendo com que muitos desviem “os ouvidos da verdade, voltando às fábulas“ (II Tm 4.4). São evangelhos que apresentam os sinais e maravilhas como provas da aprovação de Deus, não considerando que Jesus advertiu que “surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mt 24.24).

Os falsos evangelhos também possuem seus ministros, que podem ser chamados pelos mesmos nomes que as Escrituras atribuem aos que exercem serviço na igreja. Até mesmo nos dias dos apóstolos eles existiam: “porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo” (II Co 11.13). Deles o Senhor Jesus já nos tinha advertido: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores” (Mc 7.15). É preciso atentar para a advertência do Senhor, pois eles muitas vezes estão bem próximos de nós. Pedro também advertiu sobre dizendo “houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade. E por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita” (II Pe 2.1-3). O apóstolo João também tratou deste assunto e disse: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (I Jo 4.1). Os falsos ministros podem ter “aparência de piedade” (II Tm 3.5), mas Jesus disse que “por seus frutos os conhecereis” (Mt 7.20). Para reconhecê-los é necessário conhecer a Palavra de Deus, para comparar suas vidas e ensino. Cuidado! Eles podem não estar muito longe, mas “em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco, e apascentando-se a si mesmos sem temor” (Jd 1.12). Portanto: Acautelai-vos!!

Mas estes falsos mestres tem muitos seguidores!! São aqueles que preferem um evangelho mais “atual”. Sem tantas exigências, sem a necessidade de uma vida tão santa. Sobre estes Paulo escreveu que “não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências” (II Tm 4.3). Não desejam cumprir a palavra de Deus, e acabam sendo enganados “com falsos discursos” (Tg 1.22). São os que querem os benefícios que Deus pode dar, mas não desejam servir e amar a Deus. Deus é tratado como servo, que deve prover tudo o que eles desejarem. São como a multidão que após a multiplicação dos pães procurou diligentemente a Jesus. Mas Jesus lhes disse “me buscais… porque comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna” (Jo 6.26-27). São como aquela multidão, que depois que Jesus lhes falou das verdades espirituais “então … tornaram para trás, e já não andavam com ele” (Jo 6.66). São enganados pelos seus próprios corações, e se tornam presas fáceis dos que oferecem um falso evangelho. Buscam o pão, as riquezas, a saúde, o carro, mas não buscam a Cristo.

É lamentável, mas muitos estão crendo em um falso evangelho, seguindo falsos mestres, e vivendo enganados. Diante de tudo isso creio que é necessário seguirmos a recomendação de Paulo: “Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos” (II Co 13.5). Devemos nos certificar se cremos no verdadeiro evangelho. Os que não creem no verdadeiro evangelho são enganados e tornam-se presas dos falsos mestres. Onde há o verdadeiro evangelho sendo pregado, Cristo é glorificado, pecadores são salvos e vivem uma vida de santificação. Aí estará então uma igreja de Cristo Jesus.

Não nos enganemos. Até mesmo igrejas de tradição histórica, ou que iniciaram buscando viver como a “igreja do novo testamento”, estão abandonando o antigo e verdadeiro evangelho. Como a igreja de Sardes ouvem do Senhor: “Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto” (Ap 3.1). Ou como foi dito para Laodiceia: “vomitar-te-ei da minha boca” (Ap 3.16). Muitas já se tornaram seguidoras de um falso evangelho.

Apegue-mo-nos então ao “evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16), e batalhemos “pela fé que uma vez foi dada aos santos“ (Jd 1.3)

“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (I Tm 3.14-17)

9 de set. de 2011

"Fique longe dessa cabana", de James B. DeYoung

Há bastante tempo deixei no "rascunho" uma postagem sobre o livro "A Cabana", mas não consegui terminar, e nem publiquei.
Recentemente encontrei este artigo em www.chamada.com.br e resolvi divulgar.
Segue abaixo "Fique longe dessa cabana", de James B. DeYoung.

Recentemente, as vendas do livro A Cabana aproximaram-se de [sete] milhões de cópias. Já se fala em transformar o livro em filme. Mas, enquanto o romance quebra os recordes de vendas, ele também rompe a compreensão tradicional de Deus e da teologia cristã. E é aí que está o tropeço. Será que um trabalho de ficção cristã precisa ser doutrinariamente correto?
Quem é o autor? William P. Young [Paul], um homem que conheço há mais de uma década. Cerca de quatro anos atrás, Paul abraçou o “Universalismo Cristão” e vem defendendo essa visão em várias ocasiões. Embora frequentemente rejeite o “universalismo geral”, a ideia de que muitos caminhos levam a Deus, ele tem afirmado sua esperança de que todos serão reconciliados com Deus, seja deste lado da morte, ou após a morte. O Universalismo Cristão (também conhecido como a Reconciliação Universal) afirma que o amor é o atributo supremo de Deus, que supera todos os outros. Seu amor vai além da sepultura para salvar todos aqueles que recusaram a Cristo durante o tempo em que viveram. Conforme essa ideia, mesmo os anjos caídos, e o próprio Diabo, um dia se arrependerão, serão libertos do inferno e entrarão no céu. Não pode ser deixado no universo nenhum ser a quem o amor de Deus não venha a conquistar; daí as palavras: reconciliação universal.
Muitos têm apontado erros teológicos que acharam no livro. Eles encontram falhas na visão de Young sobre a revelação e sobre a Bíblia, sua apresentação de Deus, do Espírito Santo, da morte de Jesus e do significado da reconciliação, além da subversão de instituições que Deus ordenou, tais como o governo e a igreja local. Mas a linha comum que amarra todos esses erros é o Universalismo Cristão. Um estudo sobre a história da Reconciliação Universal, que remonta ao século III, mostra que todos esses desvios doutrinários, inclusive a oposição à igreja local, são características do Universalismo. Nos tempos modernos, ele tem enfraquecido a fé evangélica na Europa e na América. Juntou-se ao Unitarianismo para formarem a Igreja Unitariana-Universalista.
Ao comparar os credos do Universalismo com uma leitura cuidadosa de A Cabana, descobre-se quão profundamente ele está entranhado nesse livro. Eis aqui algumas evidências resumidas:
1) O credo universalista de 1899 afirmava que “existe um Deus cuja natureza é o amor”. Young diz que Deus “não pode agir independentemente do amor” (p. 102),[1] e que Deus tem sempre o propósito de expressar Seu amor em tudo o que faz (p. 191).
2) Não existe punição eterna para o pecado. O credo de 1899 novamente afirma que Deus “finalmente restaurará toda a família humana à santidade e à alegria”. Semelhantemente, Young nega que “Papai” (nome dado pelo personagem a Deus, o Pai) “derrama ira e lança as pessoas” no inferno. Deus não pune por causa do pecado; é a alegria dEle “curar o pecado” (p. 120). Papai “redime” o julgamento final (p. 127). Deus não “condenará a maioria a uma eternidade de tormento, distante de Sua presença e separada de Seu amor” (p. 162).
3) Há uma representação incompleta da enormidade do pecado e do mal. Satanás, como o grande enganador e instigador da tentação ao pecado, deixa de ser mencionado na discussão de Young sobre a queda (pp. 134-37).
4) Existe uma subjugação da justiça de Deus a seu amor – um princípio central ao Universalismo. O credo de 1878 afirma que o atributo da justiça de Deus “nasce do amor e é limitado pelo amor”. Young afirma que Deus escolheu “o caminho da cruz onde a misericórdia triunfa sobre a justiça por causa do amor”, e que esta maneira é melhor do que se Deus tivesse que exercer justiça (pp. 164-65).
5) Existe um erro grave na maneira como Young retrata a Trindade. Ele afirma que toda a Trindade encarnou como o Filho de Deus, e que a Trindade toda foi crucificada (p. 99). Ambos, Jesus e Papai (Deus) levam as marcas da crucificação em suas mãos (contrariamente a Isaías 53.4-10). O erro de Young leva ao modalismo, ou seja, que Deus é único e às vezes assume as diferentes modalidades de Pai, Filho e Espírito Santo, uma heresia condenada pela igreja primitiva. Young também faz de Deus uma deusa; além disso, ele quebra o Segundo Mandamento ao dar a Deus, o Pai, a imagem de uma pessoa.
6) A reconciliação é efetiva para todos sem necessidade de exercerem a fé. Papai afirma que ele está reconciliado com o mundo todo, não apenas com aqueles que crêem (p. 192). Os credos do Universalismo, tanto o de 1878 quanto o de 1899, nunca mencionaram a fé.
7) Não existe um julgamento futuro. Deus nunca imporá Sua vontade sobre as pessoas, mesmo em Sua capacidade de julgar, pois isso seria contrário ao amor (p. 145). Deus se submete aos humanos e os humanos se submetem a Deus em um “círculo de relacionamentos”.
8) Todos são igualmente filhos de Deus e igualmente amados por ele (pp. 155-56). Numa futura revolução de “amor e bondade”, todas as pessoas, por causa do amor, confessarão a Jesus como Senhor (p. 248).
9) A instituição da Igreja é rejeitada como sendo diabólica. Jesus afirma que Ele “nunca criou e nunca criará” instituições (p. 178). As igrejas evangélicas são um obstáculo ao universalismo.
10) Finalmente, a Bíblia não é levada em consideração nesse romance. É um livro sobre culpa e não sobre esperança, encorajamento e revelação.
Logo no início desta resenha, fiz uma pergunta: “Será que um trabalho de ficção precisa ser doutrinariamente correto?” Neste caso a resposta é sim, pois Young é deliberadamente teológico. A ficção serve à teologia, e não vice-versa. Outra pergunta é: “Os pontos positivos do romance não superam os pontos negativos?” Novamente, se alguém usar a impureza doutrinária para ensinar como ser restaurado a Deus, o resultado final é que a pessoa não é restaurada da maneira bíblica ao Deus da Bíblia. Finalmente, pode-se perguntar: “Esse livro não poderia lançar os fundamentos para a busca de um relacionamento crescente com Deus com base na Bíblia?” Certamente, isso é possível. Mas, tendo em vista os erros, o potencial para o descaminho é tão grande quanto o potencial para o crescimento. Young não apresenta nenhuma orientação com relação ao crescimento espiritual. Ele não leva em consideração nem a Bíblia, nem a igreja institucional com suas ordenanças. Se alguém encontrar um relacionamento mais profundo com Deus que reflita a fidelidade bíblica, será a despeito de A Cabana e não por causa dela. (extraído de uma resenha de James B. De Young, Western Theological Seminary - The Berean Call - http://www.chamada.com.br)

5 de jul. de 2011

XX Simpósio Reformado "Os Puritanos"

Estou de férias, e graças a Deus tenho a oportunidade de estar no XX Simpósio Reformado "Os Puritanos". O tema é muito relevante e necessário: A GLÓRIA DE DEUS - o fim principal do homem.Ver a glória de Deus descrita na sua Palavra nos leva a perceber que nos falta muito para conhecer e desfrutar desta glória. Pode nos levar a cair "como morto", como com João aconteceu ao ter a visão d'aquele que é o Alfa e Ômega(Ap 17.1). Podemos nos lamentar dizendo "Ai de mim! Pois estou perdido", como fez o profeta Isaías ao contemplar o Senhor no seu alto e sublime trono (Is 6.5), vendo sua pecaminosidade, e logo após sendo purificado, pois para isso nos leva a visão da Sua glória: "... E ali virei aos filhos de Israel, para que por minha glória sejam santificados."(Ex 29.43).
Poderemos não ter o rosto brilhante como o de Moisés, ao descer do monte (Ex 34.29), ou ao tê-lo não perceber como também aconteceu com Moisés, mas certamente será perceptível aos demais que temos contemplado a Glória do Deus excelso. Isso será patente na nossa vida. Senão, ainda não contemplamos a Glória do Senhor. Àquele que contempla a glória de Deus, vive para ele, se entrega ao seu serviço. Se deleita em buscar ao Senhor. Percebe que há muito mais para conhecer do Deus infinito, e anseia para estar eternamente conhecendo a Deus.
Que a Glória de Deus resplandeça em nossos corações!!!

"Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.
Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos; E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal."
I Co 4.6-11

6 de mai. de 2011

O que Wesley Praticou e Pregou sobre o Dinheiro? por Charles Edward White

John Wesley pregou muitas vezes sobre o uso do dinheiro. Possuindo provavelmente o maior salário já recebido na Inglaterra, ele teve oportunidades de colocar suas idéias em prática. O que ele disse a respeito do dinheiro? E o que fez com o próprio dinheiro?
John Wesley experimentou uma pobreza opressiva quando criança. Seu pai, Samuel Wesley, era pastor anglicano numa das paróquias que pagavam os menores salários do país. Ele tinha nove filhos para sustentar e raramente ficava sem dívidas. Uma vez John viu seu pai sendo levado para a prisão dos devedores. Portanto, quando seguiu seu pai no ministério, não tinha ilusão alguma acerca das recompensas financeiras.
É provável que tenha sido uma surpresa para John Wesley que, embora Deus o houvesse chamado para mesma vocação de seu pai, não o havia chamado para ser tão pobre quanto ele. Em vez de ser pastor numa paróquia, John sentiu a direção de Deus para ensinar na Universidade de Oxford. Lá, ele foi escolhido para ser membro do conselho do Lincoln College. Sua posição lhe garantia pelo menos trinta libras por ano, mais do que o suficiente para um rapaz solteiro viver. John parecia desfrutar de sua relativa prosperidade. Gastou seu dinheiro em jogos de cartas, tabaco e conhaque.
Enquanto estava em Oxford, um incidente transformou sua perspectiva acerca do dinheiro. Ele havia acabado de comprar alguns quadros para colocar em seu quarto, quando uma das camareiras chegou à sua porta. Era um dia frio de inverno, e ele notou que ela não tinha nada para se proteger, exceto uma capa de linho. Ele enfiou a mão no bolso para dar-lhe algum dinheiro para comprar um casaco, mas percebeu que havia sobrado bem pouco. Imediatamente, ficou perplexo com o pensamento de que Deus não havia se agradado pela forma como havia gasto seu dinheiro. Ele perguntou a si mesmo: O mestre me dirá “Muito bem servo bom e fiel”? Tu adornaste as paredes com o dinheiro que poderia ter protegido essa pobre criatura do frio! Ó justiça! Ó misericórdia! Esses quadros não são o sangue dessa pobre empregada?
O que Wesley fez?
Talvez, como resultado desse incidente, em 1731, Wesley começou a limitar seus gastos para que pudesse ter mais dinheiro para dar aos pobres. Ele registrou que, em determinado ano, sua renda fora de 30 libras, suas despesas, 28, assim, tivera duas libras para dar. No ano seguinte, sua renda dobrou, mas ele continuou administrando seus gastos para viver com 28, desse modo, restaram-lhe 32 libras para dar aos pobres. No terceiro ano, sua renda saltou para 90 libras. Em vez de deixar suas despesas crescerem juntamente com sua renda, ele as manteve em 28 e doou 62 libras. No quarto ano, recebeu 120 libras. Do mesmo modo que antes, suas despesas se mantiveram em 28 libras e, assim, suas doações subiram para 92.
Wesley sentia que o crente não deveria simplesmente dar o dízimo, mas dar toda sua renda excedente, uma vez que já tivesse suprido a família e os credores. Ele cria que com o crescimento da renda, o que deveria aumentar não era o padrão de vida, mas sim o padrão de doações.
Essa prática começou em Oxford e continuou por toda a sua vida. Mesmo quando sua renda ultrapassou mil libras esterlinas, ele viveu de modo simples, doando rapidamente seu dinheiro excedente. Houve um ano em que seu salário superou 1400 libras. Ele viveu com 30 e doou aproximadamente 1400. Por não ter uma família para cuidar, não precisava poupar. Ele tinha medo de acumular tesouros na terra, portanto, seu dinheiro ia para as obras de caridade assim que chegava às suas mãos. Ele registrou que nunca permaneceu com 100 libras.
Wesley limitava suas despesas, não adquirindo coisas que eram tidas como essenciais para um homem de sua posição. Em 1776, os fiscais de impostos inspecionaram suas restituições e lhe escreveram a seguinte sentença: “Não temos dúvidas de que o senhor possui algumas baixelas de prata para cada item que o senhor não declarou até agora”. Eles queriam dizer que um homem proeminente como ele, certamente possuía alguns pratos de prata em sua casa, e o acusavam de sonegação. Wesley lhes respondeu: “Tenho duas colheres de prata em Londres e duas em Bristol. Essa é toda a prata que possuo no momento e não comprarei mais prata alguma, visto que muitos ao meu redor almejam por pão”.
A outra forma pela qual Wesley limitava seus gastos era identificando-se com os pobres. Ele pregava que os crentes deveriam se considerar como membros dos pobres, a quem Deus havia dado dinheiro para ajudá-los. Portanto, ele vivia e comia com os pobres. Sob a liderança de Wesley, a igreja Metodista de Londres estabeleceu dois abrigos para viúvas na cidade. Elas eram sustentadas pelas ofertas recolhidas nos encontros e nas celebrações da Ceia do Senhor. Em 1748, nove viúvas, uma mulher cega e duas crianças viviam ali. Juntamente com elas, vivia John Wesley e outro pregador metodista que se encontrava na cidade naquela ocasião. Wesley se alegrava em comer da mesma comida que elas, à mesma mesa, antevendo o banquete celestial que todos os crentes compartilharão.
Durante quatro anos, a dieta de Wesley consistia principalmente em batatas, em partes para melhorar sua saúde, mas também para economizar dinheiro. Ele dizia: “Aquilo que eu guardo para comprar carne pode alimentar alguém que não possui comida alguma”. Em 1744, Wesley escreveu: “Quando eu morrer, se eu deixar dez libras para trás... você e toda a humanidade poderão testemunhar contra mim, dizendo que tenho vivido e morrido como um ladrão e salteador”. Quando ele morreu em 1791, o único dinheiro que estava em sua posse eram algumas moedas, encontradas em seus bolsos e em sua gaveta de roupas.
O que havia acontecido ao restante do dinheiro que ele ganhara em toda a sua vida, uma quantia estimada em trinta mil libras?[i] Ele o havia doado. Como Wesley havia dito: “Não poderei evitar deixar meus livros para trás quando Deus me chamar, porém minhas próprias mãos executarão a doação de todas as demais coisas”.
O que Wesley Pregou?
O ensino de Wesley sobre o dinheiro oferece diretrizes simples e práticas para qualquer cristão.
A primeira regra de Wesley acerca do dinheiro era “Ganhe o máximo que puder”. Apesar de seu potencial para o mau uso, o dinheiro em si é algo bom. O bem que ele pode fazer é infinito: “Nas mãos dos filhos de Deus, ele é comida para os famintos, água para os sedentos, roupas para os que estão descobertos. Ele dá ao viajante e ao estrangeiro um lugar onde pousar a cabeça. Por meio dele, podemos manter a viúva, no lugar de seu marido, e aos órfãos, no lugar de seu pai. Podemos ser uma defesa para os oprimidos, levar saúde aos doentes e alívio aos que têm dor. Ele pode ser como olhos para o cego, como pés para o coxo e como o socorro para livrar alguém dos portões da morte”!
Wesley acrescenta que ao ganhar o máximo que podem, os crentes devem ser cuidadosos para não prejudicar sua própria alma, mente e corpo ou a alma, mente e corpo de quem quer seja. Desse modo, ele proibiu o ganho de dinheiro em empresas que poluem o meio ambiente ou causam danos aos trabalhadores.
A segunda regra de Wesley para o uso correto do dinheiro era “Poupe o máximo que puder”. Ele insistiu para que seus ouvintes não gastassem dinheiro somente para satisfazer a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Ele clamava contra comidas caras, roupas luxuosas e móveis elegantes. “Cortem todas essas despesas! Desprezem as iguarias e a variedade, e estejam contentes com o que a simples natureza requer”.
Wesley tinha duas razões para dizer aos crentes para comprarem somente o necessário. Uma era óbvia: para que não desperdiçassem dinheiro. A segunda era para que seus desejos não aumentassem. O antigo pregador destacou sabiamente que, quando as pessoas gastam dinheiro em coisas que, de fato, não precisam, elas começam a desejar mais coisas das quais não precisam. Em vez de satisfazerem aos seus desejos, elas apenas os fazem aumentar: “Quem dependeria de qualquer coisa para satisfazer esses desejos, se considerasse que satisfazê-los é o mesmo que fazê-los crescer? Nada é mais verdadeiro do que isto: A experiência diária demonstra que quanto mais os satisfazemos, mais eles aumentam”.
Wesley advertiu principalmente sobre a questão de comprarmos muitas coisas para os filhos. Pessoas que raramente gastam dinheiro consigo mesmas podem ser bem mais indulgentes com seus filhos. Ao ensinar o princípio de que gratificar um desejo desnecessariamente tende a intensificá-lo, ele perguntou a esses pais bem-intencionados: “Por que você compraria para eles mais orgulho ou cobiça, mais vaidade, tolice e desejos prejudiciais? ...Por que você teria um gasto extra apenas para trazer-lhes mais tentações e ciladas, e para  transpassá-los com mais tristezas”.
A terceira regra de John Wesley era “Doe o máximo que puder”. A oferta de uma pessoa deve começar com o dízimo. Ele disse àqueles que não dizimavam: “Não há dúvidas de que vocês têm colocado o seu coração no seu ouro”. E advertia: “Isso ‘consumirá sua carne como o fogo’”! Entretanto, a oferta de uma pessoa não deve se limitar ao dízimo. Todo o dinheiro dos crentes pertence a Deus, não apenas a décima parte. Os crentes devem usar 100% de sua renda da forma como Deus direcionar.
E como Deus direciona os crentes a usarem sua renda? Wesley listou quatro prioridades bíblicas:
1. Providencie o que é necessário para você e sua família (1 Tm 5.8). O crente deve estar certo de que sua família possui suas necessidades e comodidades supridas, ou seja, “quantidade suficiente de uma comida modesta e saudável para comer, e roupas adequadas para vestir”. O crente também deve garantir que a família tenha o suficiente para viver caso haja imprevistos em relação ao seu ganha-pão.
2. “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Tm 6.8). Wesley acrescentou que a palavra traduzida para “vestir” é literalmente “cobrir”, o que inclui tanto moradia como roupas. “Conclui-se claramente que tudo o que tivermos além dessas coisas, no sentido empregado pelos apóstolos, é riqueza – tudo quanto estiver além das necessidades, ou no máximo, além das comodidades da vida. Qualquer um que tenha comida suficiente para comer, roupas para vestir, um lugar onde repousar a cabeça, e mais alguma outra coisa, é rico”.
3. Providencie o necessário para “fazer o bem perante todos os homens” (Rm 12.17) e não fique devendo nada a ninguém (Rm 13.8). Wesley disse que a reivindicação pelo dinheiro do crente que se seguia à família era a reivindicação dos credores. Ele acrescentou que aqueles que dirigiam o próprio negócio deveriam ter ferramentas adequadas, estoque ou o capital necessário para manter seu negócio.
4. “Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl 6.10). Após o crente ter provido o necessário para a família, credores e para o próprio negócio, sua próxima obrigação é utilizar todo o dinheiro que sobrou para suprir as necessidades dos outros.
Ao dar esses quatro princípios bíblicos, Wesley reconheceu que algumas situações não são assim tão claras. A forma como os crentes devem usar o dinheiro de Deus nem sempre é óbvia. Por essa razão, ele ofereceu quatro perguntas para ajudar seus ouvintes a decidirem como gastar seu dinheiro:
1. Ao gastar o dinheiro, estou agindo como se o possuísse ou como se fosse o curador de Deus?
2. O que as Escrituras exigem de mim ao gastar o dinheiro dessa maneira?
3. Posso oferecer essa compra como um sacrifício a Deus?
4. Deus me recompensará por esse gasto na ressurreição dos justos?
Finalmente, para um crente que ainda estivesse perplexo, John Wesley sugeriu a seguinte oração antes de realizar uma compra:
“Senhor, tu vês que estou para gastar esta quantia naquela comida, naquela roupa ou naquele móvel. Tu sabes que estou agindo com sinceridade nessa questão; como um mordomo de teus bens; gastando uma porção dele desta maneira, em conformidade com o desígnio que tu tens ao confiá-los a mim. Sabes que faço isso em obediência à tua Palavra, conforme tu ordenas e porque tu o ordenas. Peço-te que isso seja um sacrifício santo e aceitável a Ti, por meio de Jesus Cristo! Dá-me testemunho em mim mesmo de que, por meio desse esforço de amor, serei recompensado quando Tu recompensares a cada homem segundo as suas obras”. Ele estava confiante que qualquer crente de consciência limpa que fizesse essa oração usaria o seu dinheiro com sabedoria.

[i] Essa quantia equivaleria a aproximadamente 30 milhões de dólares hoje.
Traduzido por: Waléria Coicev
Copyright© Charles Edward White
©Editora Fiel
Traduzido do original em inglês: What Welsley practiced and preached about Money?

29 de mar. de 2010

O que é essencial?

E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.(Atos 2:42)

Há meses atrás, logo ao iniciar o ano, não por causa do ano novo, mas principalmente pela necessidade de ter uma direção para a igreja que se reúne em nossa casa, iniciamos um dos encontros com duas questões apresentadas aos irmãos. Eram duas perguntas, para as quais gostaria de ouvir a todos, sem interromper ou comentar suas respostas. Apresentei a primeira pergunta e depois de ouvir (e anotar) as respostas, apresentei a segunda. As perguntas tinham o seguinte teor:
1. O que os irmãos acham que tem faltado na nossa vida como igreja?
2. O que os irmãos acham que não pode faltar na nossa vida como igreja?
As respostas à primeira pergunta foram diversas, e pude perceber a expectativa de alguns em relação ao que gostariam que estivesse acontecendo na vida da igreja. Logo que fiz a segunda pergunta, a natureza das respostas se modificou. Há uma diferença substancial entre o que gostaríamos de ter e o que essencialmente devemos ter. As duas listas foram diferentes, mas interessantes. Bem, isso foi somente uma introdução à questão: O que é essencial para a vida da igreja?
Nos dias atuais estamos vendo de tudo (sem exagero) no dia a dia da igreja. As atividades são as mais variadas, e “do lazer ao louvor” vemos a grande influência do mundo. A mentalidade mundana tem invadido a vida da igreja de tal forma que já não temos uma clara distinção entre o que é mundo e o que é igreja. Muitos dos que se agregam à igreja desejam ter no rol de atividades da igreja as mesmas coisas que “faziam no mundo”. Evidente que tudo isso é consequência de um caminho iniciado há tempos atrás. No momento não estaremos tratando destas questões. Assim como tratamos com os irmãos que estão congregando conosco, vou me ater a descrever o que deve fazer parte da vida da igreja. Destas coisas não podemos abrir mão. Será interessante perceber que ao passo que forem estabelecidas as coisas essenciais, muitas coisas serão banidas da vida da igreja. Algumas porque claramente são contrárias ao que é essencial, outras porque são completamente desnecessárias. Quando percebermos o que é mais valioso, o que não tem valor será deixado de lado. 

Uma igreja perseverante
Vejamos a igreja no seu início. Como estavam vivendo? Não podemos deixar de perceber a graça e o poder presente nos primeiros dias da igreja. O derramamento do Espírito Santo, a promessa: “mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra (At 1:8). As grandezas de Deus proclamadas nos idiomas maternos de uma multidão atônita, vinda de diversas partes do mundo (At 2.5-11). A pregação poderosa de Pedro, que declarou: “Saiba, pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”(At 2.36). O arrependimento experimentado pelos que de corações compungidos foram exortados:”Salvai-vos desta geração perversa” (v. 40).
A igreja naquele dia experimentou um crescimento expressivo: de quase cento e vinte discípulos (At 1.15) para mais de três mil (At 2.41). Em muitos contextos um crescimento repentino e tão grande (2600%!!) estaria gerando uma instabilidade muito grande. Seria muito fácil os recém-chegados, com seus costumes e práticas, influenciar a minoria que já estava estabelecida. Mas não foi o que aconteceu. Somos informados que “... naquele dia agregaram-se quase três mil almas, e perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (At 2.41-42). A multidão que foi batizada passou a perseverar nas coisas que a igreja perseverava. O texto indica uma continuidade. Que grande diferença da igreja dos nossos dias, onde vemos muitos argumentando que quando a igreja cresce, obrigatoriamente ela perde a simplicidade de sua prática. O texto bíblico testemunha de forma contrária.
O que percebemos de início é que a igreja perseverava. Ora, perseverar é permanecer, continuar, ser constante, persistir nas mesmas coisas. Algo muito diferente da mentalidade dos nossos dias, que exalta a busca de novidades. Que não se conforma com fazer e praticar as mesmas coisas. Na igreja do começo era diferente. Eles perseveravam.
Na igreja contemporânea, a mentalidade mundana tem impregnado a visão de tal forma que as novidades fazem parte da agenda do dia. Existe um ciclo vicioso em que se alimenta os desejos (concupiscências) das pessoas, que sedentas, vivem buscando novidades, num consumismo desenfreado. Isso tem levado a valorização do pragmatismo na vida da igreja, onde para atrair as pessoas se utiliza do “que dá certo”, não importando se há qualquer instrução ou definição nas Escrituras sobre determinadas práticas. Se dá certo, é “porque foi abençoado por Deus”. E isso tudo se completa com uma mentalidade imediatista, de querer resultados “aqui e agora”. Se funciona, e dá resultados “satisfatórios e imediatos”, então esse é o método, essa é a prática. “Perseverar nisso? Mas não dá resultado? Por que esperar tanto tempo com isso, se podemos ter logo fazendo aquilo?” Essas frases são apresentadas como questionamentos aos que desejam continuar, persistir, perseverar...
Definitivamente, não podemos usar o padrão do mundo para medir a igreja. Quanto mais ela se torna atrativa para o mundo, mais ela será rejeitada pelo Senhor. O Senhor tem dito: “Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto. Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te” (Ap 3.1-3).
A igreja deve perseverar. Não pode inventar novidades, importar coisas do mundo. Nos temos sido chamados para guardar o que temos recebido do Senhor, em sua Palavra. Não temos autorização de buscar outras fontes, de “testar outros métodos”, nem tampouco aceitar o conselho dos ímpios no que devemos fazer na igreja.


... continua no próximo post