6 de mai. de 2012

Ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros...


A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros...” Cl 3:16

Quando estudamos o Novo Testamento, focalizando em como devem viver os discípulos de Cristo, nos admiramos de ver as muitas repetições da expressão “uns aos outros” em referência ao trato mútuo daqueles que foram chamados à comunhão dos santos (I Jo 1.3-7). Esta comunhão, diferente do que hoje é divulgada, não pode ser produzida por atividades ou métodos. Ela é consequência de sermos chamados à comunhão do Pai e de seu filho Jesus Cristo. E andando na luz (por que Deus é luz), “temos comunhão uns com os outros” (I Jo 1.7). Já tratei desse assunto em outra postagem.

A prática desta comunhão é parte do nosso viver como discípulos de Cristo. Nela se encontra a expressão “uns aos outros”. Encontramos ela relacionada com o amor, como em João 13.34: “... que vos ameis uns aos outros” e em grande parte dos textos. Mas também com os verbos suportar, servir, perdoar, sujeitar, exortar, etc. Todos estes aspectos são muito ricos para a prática da comunhão dos santos. Mas gostaria de destacar um aspecto que me chamou a atenção ao estudar este tema: o de ensinar e admoestar uns aos outros.

No texto da carta de Paulo aos Colossenses encontramos o apóstolo ordenando: “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros...” (Cl 3:16). Mas esta não é a primeira referência de Paulo ao assunto na carta. Logo no início da carta, ele próprio é apresentado realizando esta tarefa: “... [Cristo]...a quem anunciamos, admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo. E para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente” (Cl 1.28-29). Paulo trabalhava arduamente, confiando no poder de Deus, para apresentar todo “homem perfeito em Jesus Cristo”. Não é uma tarefa fácil, que possa ser realizada com esforço humano apenas. Mas como Paulo esperava conseguir tal proeza? Anunciando a Cristo, ensinando e admoestando em toda a sabedoria. Então, conhecendo deste recurso, Paulo diz aos irmãos: “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros...”. Isso nos faz lembrar como o apóstolo orientou a Timóteo: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (II Tm 3.16-17). A Palavra de Cristo, a Escritura, é o recurso que devemos usar no ensino e admoestação uns aos outros. Ela é a sabedoria de Deus, revelada aos homens, e que nos foi concedida para que, pelo poder de Deus, usada pelo Espírito Sando, produza em nós o “homem perfeito em Cristo”.

Além do uso particular e contínuo da Palavra de Deus na vida de cada crente, Deus quer que estejamos fazendo uso dela para ensinar e admoestar uns aos outros. Creio que esta é uma prática adequada para os que já foram recebidos à comunhão dos santos. Na carta aos Romanos Paulo afirmou “Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros” (Rm 15.14). Cheios do conhecimento de Cristo, que recebemos por meio de sua Palavra, podemos, e devemos, admoestar-nos mutuamente. A admoestação é uma advertência, uma repreensão branda, que além de reprovar o erro, buscar orientar para a prática correta. Como somos necessitados disso no nosso dia a dia. E Aquele que nos colocou em comunhão uns com os outros, quer que utilizemos a Sua Palavra para que haja instrução e ensino mútuo. Para que sempre estejamos cuidando uns dos outros. Ele ainda nos diz: “Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.13).

Para recebermos os benefícios deste ensino e admoestação requeridas como prática de nossa comunhão, devemos também buscar a prática das demais coisas que são mútuas: de servir, pois se nossa disposição não for de servir, não estaremos buscando o bem do outro; de suportar, pois se não estivermos dispostos a ser suporte uns aos outros, nos faltarão paciência e cuidado enquanto ensinamos; sujeição, pois se não nos dispormos a sujeitar uns aos outros, como poderemos receber a instrução e admoestação dos demais? Isso é apenas uma pequena amostra destas práticas. Melhor finalizar com o texto de Colossenses 3.12-17, pois ele nos traz uma visão mais completa deste quadro:

Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade;
Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também.
E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.
E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos.
A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração.
E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.”

22 de fev. de 2012

Providência: obra graciosa de Deus em Sua soberania!

É muito bom meditar na Providência de Deus. Em diversos aspectos podemos notar a graça e misericórdia de Deus sendo manifesta, pelas obras de Sua providência. Cada vez mais me maravilho com o poder de Deus, ao fazer “todas as coisas, segundo o conselho de sua vontade” (Ef. 1.11).

Nas páginas da Escritura são registradas muitas ações da providência de Deus. Acompanhando a narrativa bíblica, podemos não perceber inicialmente que Deus agiu, visto que em muitos casos focalizamos as ações dos homens nas histórias. Mas a Bíblia é essencialmente uma narrativa de como Deus atua. Muitas vezes somente percebemos a providência, depois de ver os fatos subsequentes. Eles revelam a providência de Deus, não percebida antes. Isso acontece especialmente nos momentos de dificuldades: “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos” (Sl 119.71).

Histórias como a da rainha Ester são exemplos claros da mão providente de Deus na história. Porque Deus conduziu Ester, uma garota órfã do povo judeu, ao palácio do rei Assuero, tornando-a rainha do império? Isso somente se torna claro no momento em que vemos o povo de Deus sob ameaça de destruição. Não foi para a glória pessoal de Ester. “E quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Et 4.14). Este questionamento descreve como Mardoqueu percebeu o motivo de Ester estar no posto de rainha. Meditemos um pouco: qual deles saberia da necessidade de uma rainha do povo judeu naquela situação? Não, eles não sabiam. Ester não foi conduzida para o “processo de seleção” de rainha do reino por terem esta percepção. Depois que vemos a ameaça ao povo judeu, então percebemos a providência de Deus. Ele conduziu todas as coisas, para que naquele exato momento, Ester estivesse lá, preservando o povo da destruição. A história de Ester é uma amostra. São muitas nas Escrituras: José, Moisés, Rute, Samuel, David, … a lista é grande!! E sobre todas elas, vemos a grande providência de Deus na vinda de Jesus. A história foi conduzida, pela providência de Deus, para a vinda do redentor (At 2.23, 4.28).

Não sabemos como Deus age, de forma a conduzir isso (Is 55.9, Rm 11.33-34). Os homens decidem e agem, sendo responsáveis por suas ações (Rm 2.1-6). Isto também é visto claramente na Escritura. Cada um há de prestar contas ao Senhor em como anda nesta vida. Mas, ao mesmo tempo, nada foge ao controle de Deus. Isso é maravilhoso. “Segundo a sua vontade Ele opera com o exercito do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?” (Dn 4.35).

Mas, a história da providência de Deus também nos alcança. Podemos percebê-la em nossas próprias vidas, seus filhos e objetos do Seu amor e misericórdia. Até mesmo antes de nosso nascimento!! (Sl 139.16). Como Deus nos colocou na família e no lugar onde poderíamos conhecê-lo. Não que entendamos imediatamente o que nos acontece. Ou que ao agirmos, pensamos deliberadamente na providência de Deus. Não!! Mas Ele inclina o nosso coração para agir e decidir de forma que, mesmo sem considerarmos o desdobramento dos fatos, Sua mão a tudo conduz (Pv 21.1). Até que algo aconteça, e então, reconhecemos que Deus agiu novamente com grande misericórdia conosco, através de sua graciosa providência. Por vezes, de forma ingrata, reclamamos do que nos acontece, até que os nossos olhos sejam abertos e vejamos que, o que nos pareceu mal, foi de fato um cuidado de Deus conosco.

Confesso que há grande dificuldade em entender como Deus faz tudo isso, e mesmo assim sermos realmente responsáveis por nossos atos. Mas me submeto às declarações das Escrituras! Sim, sou eu que ajo e decido nas coisas do dia a dia. Quando erro, quando peco, é minha vontade agindo, em desacordo com sua Palavra. Mas em Sua bendita providência ele age, ainda que me disciplinando, pois “... somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (I Co 11.32). Podemos crer e confiar em Deus, que de forma justa e amorosa atua na nossa história (Mt 10.29-31).

Louvemos a Deus, por sua graciosa providência, reconhecendo que tudo ele faz pra nosso bem!
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Rm 8.28